Associações querem proibir anúncio de álcool

Especialistas e médicos pedem restrições iguais às impostas à propaganda de cigarro

LÍGIA FORMENTI

A Associação Brasileira do Estudo do Álcool e outras Drogas, a Associação Médica Brasileira e a Secretaria Nacional Antidrogas lançaram esta semana um manifesto pedindo a proibição de propaganda de bebidas alcoólicas no País. No documento, também assinado pela Associação Brasileira de Psiquiatria, as entidades pedem que as restrições para veiculação de propagandas sejam iguais às existentes para o cigarro: somente cartazes afixados em locais fechados seriam permitidos.

"É uma medida indispensável, ainda mais depois da avalanche de filmes que fomos submetidos ao longo da Copa do Mundo", afirmou o professor da Universidade Federal de São Paulo e especialista em tratamento de pacientes com dependência química Ronaldo Laranjeira. Para ele, últimas peças publicitárias, que usam animais simpáticos e bem-humorados, têm grande impacto principalmente entre o público jovem e crianças. "É um fenômeno semelhante ao camelo usado por uma fabricante de cigarro. Depois de um tempo de veiculação, ele passou a ser facilmente reconhecido por crianças e, por esse motivo, sua exibição acabou sendo proibida", lembrou Laranjeira.

No manifesto, as entidades sustentam que bebidas alcoólicas são sempre associadas a momentos de prazer. "Há também a idéia de que cerveja, por exemplo, é algo inofensivo. Errado, é uma bebida alcoólica como outra qualquer, que pode provocar dependência", afirmou Laranjeira.


Números - Dados do Primeiro Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas no País, feito pelo Senad, mostram que o álcool é a principal droga consumida pelos brasileiros. De acordo com o estudo, 11,2% da população é dependente do álcool. "Os números são suficientes para mostrar a importância de uma política de prevenção", afirma Laranjeira. "E prevenção não é feita apenas com algumas campanhas, mas com a preservação do ambiente."

Procurados pelo Estado, a Ambev e a Associação Brasileira de Indústria de Bebidas não se manifestaram. Para a presidente do Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça, Maria das Vitórias Carneiro Cavalcanti, o importante é que a mensagem de moderação seja sempre veiculada. "Não sei se proibir é o caminho. Mas é preciso também tratar todas as bebidas de forma igual." Propagandas de aguardentes têm exibição limitada, de acordo com horário.

O governo federal passou a impor uma série de restrições à publicidade de cigarro no Brasil há um ano e meio, numa tentativa de evitar que principalmente o público jovem fosse seduzido pelas campanhas da indústria do tabaco e começasse a fumar. O projeto com as novas regras foi redigido pelo então ministro da Saúde José Serra e sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em dezembro de 2000. (Colaborou Marcos de Moura e Souza)

Fonte: O Estado de São Paulo em 07-03-2002.