13/01/2008
Narguilé vira mania nas praias
Nessa temporada, uma das principais diversões dos jovens nas praias do Paraná é o uso do narguilé. A novidade chegou ao litoral após ter se tornada moda no interior do estado no ano passado. Também conhecido como arguile, esse cachimbo coletivo tem origem árabe e é utilizado para fumar tabaco aromatizado. Grande parte dos jovens aluga o equipamento em bares na beira da praia, mas alguns possuem seus próprios narguilés e preferem sentar no calçadão para se reunir com os amigos e fumar. “Não tem graça nenhuma fumar sozinho. O legal é a roda de amigos e as conversas que surgem enquanto a gente fuma”, explica o estudante Vinícius Pontes, 19 anos, que comprou o equipamento há cerca de quatro meses.

Independentemente do local e do horário escolhidos para fumar, a maioria dos usuários do narguilé ainda desconhece os prejuízos que o uso freqüente pode causar à saúde. “Os jovens acreditam que o narguilé é inofensivo porque não têm noção de que estão usando tabaco”, comenta o médico pneumologista Ricardo Meirelles, que trabalha na Divisão de Tabagismo do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Apesar de ser mais atraente do que o cigarro comum por apresentar sabor e cheiro mais agradáveis, o narguilé pode ser ainda mais prejudicial à saúde do que o próprio fumo tradicional. “Uma sessão de uma hora de uso do narguilé representa a inalação de 100 a 200 vezes o volume de fumaça inalado por um cigarro simples”, explica o consultor nacional da Organização Panamericana de Saúde (Opas) no Brasil, Jaime Rojas. O risco é ainda maior quando se pensa nos efeitos dos outros elementos utilizados no narguilé para que o tabaco seja consumido. Segundo o médico pneumologista do Hospital de Clínicas, Jairo Sponholz, além da nicotina, o usuário do narguilé acaba consumindo outras substâncias tóxicas liberadas na queima do carvão, como nitrosaninas, hidrocarbonetos e metais pesados, elementos altamente cancerígenos. No entanto, muitos usuários do narguilé ainda acreditam que os prejuízos à saúde podem ser reduzidos se a fumaça não for tragada. Sponholz e Meirelles desmistificam a informação. “Não é preciso tragar a nicotina para absorvê-la porque essa absorção é feita pela mucosa oral”, explica Sponholz. “O risco não atinge somente as pessoas que estão utilizando o narguilé, mas também os que estão próximos, que acabam se tornando fumantes passivos devido à exposição prolongada”, completa Meirelles.

Famílias de origem árabe, que usam o narguilé como forma de manter as tradições da terra natal, conhecem os efeitos maléficos do uso constante do cachimbo. “Para a gente, o narguilé é uma tradição como o chimarrão para os gaúchos, mas a gente sabe que não faz bem à saúde”, afirma a comerciante Kathy Rahall, 53 anos, de origem libanesa. A estudante Bianca Saad, 19 anos, também pertence a uma família de origem árabe e, além de fumar o narguilé em casa com os pais, ela consome o tabaco com as amigas em ocasiões especiais, como churrascos e festas da faculdade. Durante a temporada, ela e as amigas Maitê Domanski, 18 anos, Steffi Hilty, 19 anos, e Anna Hey, 19 anos, fumam de vez em quando no bar Aldeia, em Caiobá. Mas logo ao dar as primeiras tragadas Bianca já avisa: “Não pode fumar muito porque faz mal”.

Fonte : Gazeta do Povo / PR