Nessa
temporada, uma das principais diversões dos jovens nas praias
do Paraná é o uso do narguilé. A novidade chegou ao litoral
após ter se tornada moda no interior do estado no ano passado.
Também conhecido como arguile, esse cachimbo coletivo tem
origem árabe e é utilizado para fumar tabaco aromatizado.
Grande parte dos jovens aluga o equipamento em bares na beira
da praia, mas alguns possuem seus próprios narguilés e
preferem sentar no calçadão para se reunir com os amigos e
fumar. “Não tem graça nenhuma fumar sozinho. O legal é a roda
de amigos e as conversas que surgem enquanto a gente fuma”,
explica o estudante Vinícius Pontes, 19 anos, que comprou o
equipamento há cerca de quatro meses.
Independentemente
do local e do horário escolhidos para fumar, a maioria dos
usuários do narguilé ainda desconhece os prejuízos que o uso
freqüente pode causar à saúde. “Os jovens acreditam que o
narguilé é inofensivo porque não têm noção de que estão usando
tabaco”, comenta o médico pneumologista Ricardo Meirelles, que
trabalha na Divisão de Tabagismo do Instituto Nacional do
Câncer (Inca).
Apesar de ser mais atraente do que o
cigarro comum por apresentar sabor e cheiro mais agradáveis, o
narguilé pode ser ainda mais prejudicial à saúde do que o
próprio fumo tradicional. “Uma sessão de uma hora de uso do
narguilé representa a inalação de 100 a 200 vezes o volume de
fumaça inalado por um cigarro simples”, explica o consultor
nacional da Organização Panamericana de Saúde (Opas) no
Brasil, Jaime Rojas. O risco é ainda maior quando se pensa nos
efeitos dos outros elementos utilizados no narguilé para que o
tabaco seja consumido. Segundo o médico pneumologista do
Hospital de Clínicas, Jairo Sponholz, além da nicotina, o
usuário do narguilé acaba consumindo outras substâncias
tóxicas liberadas na queima do carvão, como nitrosaninas,
hidrocarbonetos e metais pesados, elementos altamente
cancerígenos. No entanto, muitos usuários do narguilé ainda
acreditam que os prejuízos à saúde podem ser reduzidos se a
fumaça não for tragada. Sponholz e Meirelles desmistificam a
informação. “Não é preciso tragar a nicotina para absorvê-la
porque essa absorção é feita pela mucosa oral”, explica
Sponholz. “O risco não atinge somente as pessoas que estão
utilizando o narguilé, mas também os que estão próximos, que
acabam se tornando fumantes passivos devido à exposição
prolongada”, completa Meirelles.
Famílias de origem
árabe, que usam o narguilé como forma de manter as tradições
da terra natal, conhecem os efeitos maléficos do uso constante
do cachimbo. “Para a gente, o narguilé é uma tradição como o
chimarrão para os gaúchos, mas a gente sabe que não faz bem à
saúde”, afirma a comerciante Kathy Rahall, 53 anos, de origem
libanesa. A estudante Bianca Saad, 19 anos, também pertence a
uma família de origem árabe e, além de fumar o narguilé em
casa com os pais, ela consome o tabaco com as amigas em
ocasiões especiais, como churrascos e festas da faculdade.
Durante a temporada, ela e as amigas Maitê Domanski, 18 anos,
Steffi Hilty, 19 anos, e Anna Hey, 19 anos, fumam de vez em
quando no bar Aldeia, em Caiobá. Mas logo ao dar as primeiras
tragadas Bianca já avisa: “Não pode fumar muito porque faz
mal”. |