A
vida de fumantes em Belo Horizonte pode ficar difícil. A
assessoria do vereador Tarcísio Caixeta (PT) apresenta hoje ao
presidente da Câmara Municipal emenda substitutiva ao Projeto
de Lei 361/05, tornando mais rigorosa a legislação de combate
ao tabagismo no município. O texto ainda será submetido aos
vereadores e proíbe a população de fumar em ambientes
fechados, como bares, restaurantes, hotéis e padarias. Acaba
com os fumódromos e a divisão de áreas para fumantes e
não-fumantes nos estabelecimentos, permitindo o fumo apenas em
tabacarias e áreas abertas.
Conheça
a legislação atual e o projeto de lei
O
projeto representa um endurecimento da Lei 6.861/95, que
proíbe o tabaco em teatros, cinemas, bancos, postos de
combustível, ônibus, táxis e elevadores, entre outros. O novo
projeto estende o impedimento a hospitais, consultórios
médicos, postos de saúde, creches, escolas, universidades,
ginásios, correios, igrejas, parques, aeroportos, estações de
ônibus BHBus e do metrô. Se antes o fumante irregular estava
sujeito a uma multa de R$ 206,70, no novo projeto a
responsabilidade ficaria nas costas do proprietário ou
responsável pelo estabelecimento. Ele estaria sujeito a multa
de R$ 380. Se não afixasse cartazes informando a proibição e
deixasse de convidar fumantes a se retirarem do local, pagaria
ainda mais: R$ 1.140.
A apresentação da emenda
substitutiva, com o novo texto, acenderá uma polêmica na
Câmara dos Vereadores. Na terça-feira, entidades de classe,
como o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de
Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindhorb),
manifestaram-se contrárias à iniciativa. Para o presidente do
Sindhorb, Paulo Pedrosa, o poder público não tem estrutura
para fiscalizar os estabelecimentos. “O projeto vai aumentar o
número de mesas e cadeiras nas calçadas. As pessoas vão para a
rua fumar, do mesmo jeito”, disse o dirigente sindical, que
completou: “Vamos trabalhar para barrar o projeto na Câmara,
não vamos deixar passar”.
Se fumantes seguirem o
exemplo da estudante Maria Braga Câmara, de 20 anos, Pedrosa
tem motivos para ficar preocupado. Isso porque ela disse na
terça-feira que pensa em deixar de freqüentar bares em
ambientes fechados e com proibição ao fumo. “Vou ter que
escolher outros lugares para ir”, disse. “Às vezes parece que
a cerveja pede um cigarro”, complementou o amigo da garota
Bruno Verciano, de 21, também fumante. Mesmo com a promessa de
selecionar ambientes no futuro, ambos são favoráveis ao
endurecimento da lei. “Sempre achei que o cigarro incomoda
bastante. Por isso não acendo perto de quem não está fumando”,
conta Maria Braga, que na terça-feira pediu permissão ao
garçom de um café no Centro da capital antes de pegar o
maço.
Restrição
ao tabagismo cresce no mundo todoA
iniciativa conta com a aprovação de não-fumantes e
ex-fumantes. “Nunca tive muita tolerância com cigarro. Tenho
bons amigos que fumam, mas não acho bom voltar para casa com a
roupa cheirando a cigarro”, argumenta a advogada Ana Lúcia
Malta, de 32. A colega de profissão Sheila Guimarães, de 33,
sente saudades do tempo em que fumava e parou por motivos de
saúde. Mas reclama do cheiro e acha a medida importante.
“Mesmo o fumante não gosta muito desse aroma”, afirmou. Ela
considera radical proibir o cigarro em todos lugares fechados,
por isso, defende o credenciamento de estabelecimentos onde o
fumo é permitido. “A decisão de freqüentar ou não o lugar fica
a cargo do consumidor”, ponderou.
O projeto inicial do
vereador Caixeta foi apresentado em 2005 e previa a instalação
de cabines próprias para fumantes em estabelecimentos
comerciais. O texto chegou a ser aprovado por duas comissões
da Câmara – de Legislação e Justiça e Meio Ambiente e Política
Urbana – e estava pronto para votação em primeiro turno.
Entretanto, estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
mostrou que o custo do equipamento seria alto e o vereador
decidiu rever o projeto. Como a apresentação de emenda que
substitui o projeto original, o texto voltará as comissões a
partir da primeira semana de março.
Para assessores do
vereador, a tramitação em Belo Horizonte deverá ser mais
rápida do que projeto semelhante discutido em âmbito nacional.
Na segunda-feira, o ministro da Saúde José Gomes Temporão
prometeu enviar ao Congresso Nacional, até o fim do mês,
projeto de lei que irá proibir o fumo em ambientes fechados e
banir os fumódromos. Assim como a iniciativa belorizontina, o
objetivo é extinguir ambientes reservados aos fumantes em
bares, restaurantes, shopping centers e escritórios.