Araçatuba - Domingo, 27 de janeiro de 2008 - 18h33
Valdivo Pereira - 26/01/2008Além dos malefícios à saúde, o cigarro causa impactos significativos na economia mundial |
Araçatuba - Largar um vício, além de trazer
benefícios para a saúde, pode significar um grande impacto na vida financeira.
Deixar de comprar um maço de cigarros ou tomar aquela cervejinha após o trabalho
vai resultar em uma economia diária de R$ 2 a R$ 4, que no longo prazo renderá
valores que poderiam ser aplicados na construção da casa própria ou mesmo na
compra de carros zero-quilômetro. Dependendo do investimento escolhido, a
economia de um simples maço de cigarros por dia pode se transformar em R$ 132
milhões em 30 anos.
O alerta é feito pelo consultor e terapeuta
financeiro Reinaldo Domingos. "Poucas pessoas se dão conta do risco financeiro
que o vício proporciona. É lógico que esse risco é muito menor do que os
físicos. Entretanto, não podemos negar que esse impacto reflete na economia
diária do viciado", diz se referindo ao consumo de cigarros.
Segundo
Domingos, uma forma de analisar a importância de parar de fumar para a economia
de uma pessoa é analisar o quanto é gasto ao longo dos anos com o vício. "Se uma
pessoa consumidora de um maço de cigarros por dia parar de fumar e, ao mesmo
tempo, economizar e investir o valor desse maço (média de R$ 2,75) diariamente
(com uma taxa de 1% ao mês), ao final de 20 anos essa mesma pessoa terá R$
81.613,57 e ao fim de trinta anos, um rendimento de R$ 288.334,54", calcula. O
juro de 1% ao mês é conseguido aplicando o dinheiro em um fundo de investimentos
que tenha bom rendimento.
POUPANÇA - Fazendo o mesmo
cálculo com o investimento na poupança, com juros de 0,67% ao mês, investindo R$
2,75 ao dia, um fumante teria pouco mais de R$ 49,5 mil em 20 anos e mais de R$
126,7 mil em 30 anos, conforme mostra o consultor econômico Evandro Henrique
Moreira. "O índice aplicado é uma média extraída do período que corresponde de
1º de janeiro de 2005 a 1º de setembro de 2007", explica o cálculo. Nesse mesmo
período foram mensuradas médias de outros indicadores, tais como Ibovespa
(investimento de risco): 3,0437% ao mês, CDB (investimento fixo): 1,0443% ao
mês, e inflação (IPCA/IBGE) - índice oficial usado pelo governo federal: 0,3515%
ao mês.
Deixando de consumir dois maços de cigarro por dia, é possível
comprar com o mesmo dinheiro, em 20 meses, um televisor LCD 42 polegadas, sem
levar em consideração qualquer rendimento. Segundo pesquisa feita pela
reportagem, esse modelo de televisor custa a partir de R$ 3.299,90. Economizando
um pouquinho a mais, R$ 7,56 por dia, é possível adquirir uma moto Honda CG
Titan KS financiada. O modelo pode ser adquirido em 42 parcelas de R$ 227, sem
entrada, em uma concessionária de Araçatuba.
Investindo o valor de um
maço apenas (R$ 2,75/dia) na poupança, é possível comprar o televisor em 36
meses e a moto em 63 meses (cinco anos e três meses), já que o veículo custa R$
6.450 se pago à vista. Consumindo um maço de cigarros por dia, ao longo de 20
anos, uma pessoa terá comprado 7,5 mil maços de cigarro e gastado R$ 20.075
(considerando o custo de R$ 2,75 por maço). Em 30 anos, serão 10.950 maços, o
equivalente a R$ 30.112,50, sem considerar o reajuste no preço do cigarro ao
longo desse tempo.
SAÚDE - Segundo o consultor Reinaldo
Domingos, no cálculo de economia não entraram os gastos que um fumante terá no
período com problemas de saúde ocasionados pelo cigarro e da perda de rendimento
no trabalho em função do cansaço que o vício proporciona.
"O ato de fumar
não faz só que o viciado perca dinheiro. O tabagismo gera uma perda mundial de
US$ 200 bilhões por ano, sendo que a metade dela ocorre nos países em
desenvolvimento", diz Domingos. O valor, calculado pelo Banco Mundial, é o
resultado da soma de vários fatores, como o tratamento das doenças relacionadas
ao tabaco, mortes de cidadãos em idade produtiva, maior índice de aposentadorias
precoces, aumento no índice de falta ao trabalho e menor rendimento produtivo. O
consultor lembra ainda que o cigarro faz com que os governos tenham menos
dinheiro para investir em outras áreas da saúde, o que garantiria uma maior
longevidade a toda população.
"Agora imagine: se um fumante parar de
fumar hoje e investir esse dinheiro, daqui a trinta anos, além de ter uma
expectativa de qualidade de vida muito maior, estará quase R$ 300 mil mais rico.
Não vale a pena?", finaliza.
Economizar na cerveja também faz
diferença
Além do cigarro, outro hábito do brasileiro é a famosa
cerveja gelada no fim do dia, para relaxar. No entanto, esse lazer custa caro
para a pessoa, que acaba não percebendo o quanto poderia render ao longo dos
anos.
Consumindo duas garrafas de cerveja ao dia, uma pessoa gasta em
média R$ 4,40 (considerando o preço da garrafa a R$ 2,20, conforme comercializam
boa parte dos bares). No mês, sem calcular, esse consumidor "bebeu" R$ 132,00.
"Sendo assim, se uma pessoa aplicar R$ 132 em poupança (a cada mês), com juros
de 0,6792%, terá ao final de 20 anos (240 meses) um montante de R$ 79.224,57.
Para 30 anos, com o mesmo índice de correção terá R$ 202.849,42", contabiliza
Moreira.
No entanto, o consultor ressalta que os dados foram calculados
tendo como base os valores atuais, tanto do cigarro como da cerveja. "O ideal
seria aumentar o valor dos produtos a cada ano, pois existe inflação apesar de
pequena. O preço pago hoje por um produto, daqui a 20 ou 30 anos, será outro, e
com certeza maior", explica deixando claro que os dados acima não foram
mensurados os aumentos inflacionários.
Além da poupança, há diversas
outras opções de investimentos e bem mais rentáveis. "Os mais viáveis são os
investimentos de risco de mercado financeiro, empresas cotadas em bolsa. A
poupança não é um bom negócio, pois remunera muito pouco principalmente neste
cenário atual, com juros estáveis a um patamar quase descente", lembra o
consultor. Segundo Moreira, os investidores da poupança são em sua maioria,
pessoas de meia idade para frente que não podem ou não gostam de assumir nenhum
risco e por isto aceitam um retorno menor.
Calculando o investimento
diário de R$ 4,40 aplicados no CDB (Certificado de Depósito Bancário) Pré-fixado
(1,0443% ao mês) - títulos nominativos emitidos pelos bancos e vendidos ao
público como forma de captação de recursos - em um ano a pessoa terá R$
1.679,77; em 10 anos, R$ 31.335,77; em 20 anos, R$ 140.339,10; e em 30 anos, R$
519.530,18. Se investir na Bolsa de Valores, em 30 anos, o rendimento será maior
que R$ 211,4 milhões, utilizando como cálculo o índice Ibovespa de 3,0437% ao
mês.
"As alternativas variam de acordo com o perfil do consumidor. Os
conservadores optam sempre pela poupança, letras do tesouro (títulos públicos
disponíveis para compra) e fundo de renda fixa. Já os intermediários escolhem
opções como o fundo de renda variável, índices e ouro, enquanto que os arrojados
aplicam nas ações de empresas cotadas em bolsa, imóveis, empresas, entre
outros", define.
Não importa a forma, nem o investimento, mas a economia
diária é fundamental para se conseguir uma "poupança" no futuro. "Economizar não
é importante, é essencial hoje em dia, ainda mais porque em futuro próximo, não
existirá mais aposentadoria e as pessoas vão ter que viver com o que
economizarem durante a vida", finaliza Moreira. A.G.
Recompensa é
estímulo para largar o vício
Para tentar largar o vício, a
coordenadora de programação Andréa Cristiane Goulart, 34 anos, utilizou uma
metodologia parecida: começou a investir o mesmo valor gasto mensalmente com
cigarros, na compra de CDs e livros, duas coisas que ela sempre gostou.
Ela conta que gastava cerca de R$ 150 por mês para sustentar o vício do
cigarro, sem contar os gastos com bebidas. "Fumava um maço e meio a dois por
dia. Quando saía para beber com os amigos, esse número dobrava, chegando a três
maços", lembra. "Para compensar, passei e comprar CDs e livros com o dinheiro
que começou a sobrar no final do mês", completa. A dica, segundo Andréa, veio de
uma revista. "Li uma reportagem falando que para ajudar a largar o vício do
cigarro, uma das medidas era guardar o dinheiro e gastar com coisas que
gostamos. Como eu gostava de música e leitura, comecei a comprar esses
presentes".
O vício que ela manteve durante dez anos já não a acompanha
mais há quatro anos. Atualmente, ela não bebe e recusa bebida alcoólica.
"Busquei ajuda de um médico especialista e o tratamento que era para durar cinco
meses, eu consegui fazer em apenas dois", conta. Andréa utilizou um medicamento
diário durante dois meses pelo qual pagava R$ 40. "Hoje não sinto mais a mínima
vontade de fumar, nem quando vejo alguém fumando".
Andréa afirma que hoje
se sente mais livre sem o vício. "Antes era uma preocupação, aquela 'neura' de
ter que comprar cigarros com medo de faltar, sair no meio do trabalho para
fumar, sem contar o cheiro que ficava no corpo e nas roupas", detalha.
Aplicar o dinheiro que gastava com cigarros não passou pela cabeça de
Andréa. "Mas agora vou começar a pensar nisso também", finaliza. A.G.
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