Cigarros apagados de forma pacífica Cafés, restaurantes e centros comerciais estão já livres de fumo. A
nova legislação do tabaco parece ter sido bem aceite pela maioria das
pessoas. Os empresários da restauração estão satisfeitos, os fumadores
conformados. Agora é esperar para ver, dizem
Os cigarros ficam à
porta. Quem passasse, ontem, frente aos cafés da Baixa veria, aqui e ali,
um cigarro fumado de forma apressada e apagado imediatamente antes da
entrada no estabelecimento. Lá dentro, a proibição era cumprida à risca,
ganhando o ambiente e até o apetite. O automatismo do “café e cigarro”
parece ter, assim, os dias contados. O Diário de Coimbra (DC) falou com
clientes e empresários de restauração e, de uma maneira geral, registou
uma apreciação positiva da nova lei. No restaurante esplanada Jardim
da Manga, Francisco Almeida já vinha, há alguns dias, a alertar os
clientes habituais e ontem apontava já os dísticos com “proibido fumar”.
«As pessoas já sabiam que isto, mais dia, menos dia, ia ser assim. Agora
só na esplanada ou na rua», dizia, deixando entender que os clientes ainda
não se tinham queixado da restrição. José Amaral, por exemplo, um
frequentador regular do restaurante, optou por fumar na rua: «A nova lei
tem as suas vantagens, pode ser que seja desta que decida largar o
cigarro», admitia. Já Francisco Almeida faz as contas e diz que sempre
se vai perdendo alguma coisa: «atrás de um café vinha o cigarro, atrás do
cigarro o digestivo, os fumadores consomem mais». «Espectacular! Muito
bem», foi a resposta do responsável do Café Santa Cruz à pergunta sobre a
adaptação às novas regras sobre consumo de tabaco em espaços públicos
fechados. Visivelmente satisfeito com a qualidade do ambiente, José Cruz
referiu que, no dia de ontem, ainda não tinham sentido a necessidade de
chamar a atenção a nenhum cliente. «Até eu, que sou fumador, sinto-me
muito melhor aqui dentro». Opinião idêntica foi a manifestada por
Manuel da Silva, do Café Restaurante Nicola. «Está a correr muito bem, já
se pode respirar. Antes era uma pouca-vergonha, não havia respeito
nenhum», disse, apontando as paredes ainda afectadas pelas nuvens de fumo.
De acordo com o gerente, «ainda ninguém se queixou de não poder fumar,
quando muito aplaudiram a medida». Mas, reparou, «agora a pressão é
grande, fala-se muito, vamos ver depois…».
Compras sem
fumo
Em tardes de compras, a espera ou o descanso nos corredores em
frente às lojas deverá fazer-se agora de cigarro apagado. A proibição de
fumar existe também nos centros comerciais, ainda que o facto de serem
espaços grandes e amplos leve alguns dos fumadores a questionar a
restrição. Em declarações ao Diário de Coimbra, responsáveis dos dois
maiores centros comerciais da cidade garantiram que a legislação está a
ser cumprida e que os clientes mostram uma boa aceitação. No Dolce
Vita Coimbra a campanha de sensibilização começou semanas antes da entrada
em vigor da nova lei, com informação junto de lojistas e clientes e,
posteriormente, com a colocação de dísticos, referiu o director, Paulo
Ruivo e Silva. Considerando ser ainda um pouco cedo para fazer uma
apreciação ao comportamento das pessoas – «o feed-back não é expressivo»
-, o responsável refere «que os clientes estão a aceitar bem a proibição»,
em especial porque esta se estende para além dos centros comerciais, a
todos os espaços públicos. «A população está esclarecida e penso que
não haverá contestação», refere Paulo Silva, acreditando que todos têm a
ganhar com esta nova lei, incluindo os fumadores. Surgirão, naturalmente,
«dificuldades iniciais, mas não lhes resta alternativa se não
adaptarem-se», acrescentou. Tanto no Dolce Vita como no Forum Coimbra,
«não querendo policiar», os seguranças estarão atentos a eventuais
infracções da nova norma. «Caso se revele necessário, vão advertir a
pessoa para que apague o cigarro», explica Paulo Silva. No Forum, segundo
a responsável de Marketing Ana Torres, os colaboradores também estão a
receber formação específica, para que saibam abordar os clientes «de forma
delicada e simpática, encaminhando-os para as zonas onde podem fumar ou
convidando- -os a apagar o cigarro».
Mudança gradual
O
Forum, de acordo com a mesma responsável, preserva alguns cinzeiros, mas
colocou-os estrategicamente nas entradas – acompanhados do dístico que
alerta para a proibição de fumo no interior do espaço comercial – e nas
zonas em que é possível fumar, como sejam as esplanadas ou um espaço
próprio para os trabalhadores. O Crazy Bowling é a única área comercial de
excepção, uma vez que possui um sistema próprio de extracção de fumo.
À parte de «algumas pessoas que, inconscientemente, puxam do cigarro»,
Ana Torres revela que, no Forum, a medida está a ser cumprida e que mesmo
os clientes que são chamados à atenção «estão a aceitar bem e sem
reclamações». «A mudança será gradual, mas tudo leva a crer que será
pacífica», acredita. A lei do Tabaco, que proíbe o fumo nos serviços
da administração pública, restaurantes, bares, discotecas ou centros
comerciais, entrou em vigor às 0h00 do dia 1 de Janeiro.
O que eles
dizem…
Luís Cruz 30 anos «Ainda não notei diferença, porque
de manhã tomei o café rapidamente, o cigarro fumei-o já na rua, mas a
partir de agora vai ser diferente. Compreendo que as pessoas fiquem
incomodadas com o fumo, mas acho que os fumadores também deviam ter um
espaço próprio. Fumo desde os 14, são muitos anos, é muito difícil
deixar».
João Rodrigues 57 anos «Acho que a nova lei do
tabaco é demasiado radical. Deixei de fumar há cerca de seis anos, mas
ainda estou a sofrer as consequências desse hábito. Ainda assim, acho que
na maioria dos espaços – restaurantes e cafés que não fossem muito
pequenos – o fumo não era assim tão incomodativo. Ainda não notei grandes
diferenças…».
Fátima Guerreiro 20 anos «Ontem estávamos a
tomar café e puxamos do cigarro, estávamos distraídas. Hoje tomámos o café
e saímos logo. Para os espaços pequenos, acho que a nova lei foi boa, mas
nos espaços grandes acho que não era necessário. Nos centros comerciais,
por exemplo, são amplos e não se sente o fumo».
Diana Amador 17
anos «Não vimos ninguém a fumar e optámos por não o fazer, no centro
comercial. Mas acho incompreensível. Também nas discotecas, o normal é a
pessoa estar a dançar e a fumar, beber um copo, o ambiente presta-se a
isso. Como é que as pessoas vão fazer? Vêm à rua de cada vez que quiserem
fumar?»
Escola de Hotelaria livre de fumo
A Escola de
Hotelaria e Turismo de Coimbra (EHTC) é, desde a entrada em vigor da nova
lei do tabaco, uma «instituição totalmente livre de fumo». À proibição de
fumar em locais fechados, a direcção acrescenta a restrição de fumar
também nos espaços exteriores, nomeadamente no pátio central – um dos ex
libris da escola –, na zona da entrada de serviço e descargas, bem como no
parque de estacionamento. Em nota de imprensa, o sub-director, José
Luís Marques, sublinha a opção por este conceito de “Escola Livre de Fumo”
«na procura de contribuir, no espírito da lei, para a protecção dos
cidadãos da exposição involuntária ao fumo do tabaco». O responsável
repara ainda na mais-valia que a medida pode ter na redução dos consumos e
mesmo na cessação tabágica. «Na qualidade de estabelecimento de ensino e
formação, a EHTC pretende também promover estilos de vida saudáveis entre
alunos, funcionários e colaboradores», acrescenta o comunicado.
Andrea Trindade |