A interação entre a 
genética e o ambiente pode gerar uma armadilha nem um pouco saudável para as 
pessoas que sofrem de déficit de atenção e hiperatividade. Um estudo feito por 
pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostrou que quem tem 
o problema (conhecido tecnicamente pela sigla DTAH) corre mais risco de se 
tornar fumante. 
A pesquisa, coordenada por Claiton Henrique Dotto Bau, 
foi apresentada durante o 53° Congresso Brasileiro de Genética, em Águas de 
Lindóia (SP). Os pesquisadores gaúchos estão tentando justamente entender quais 
as raízes inatas do DTAH e de que maneira elas interagem com o ambiente. Uma 
coisa parece clara: o componente genético existe e é forte, com uma 
herdabilidade (a chance de os filhos de uma pessoa com o problema também o 
desenvolverem) de quase 80%. 
“O DTAH é mais comum na infância, mas 
muitas vezes não é diagnosticado nessa fase da vida e chega à fase adulta, 
levando a uma série de outros problemas associados, como o uso de álcool e 
drogas”, conta o pesquisador. No entanto, tudo indica que o problema está ligado 
a um conjunto relativamente grande de genes, todos eles com um pequeno efeito 
isolado sobre o resultado final, o que atrapalha na hora de tentar criar 
diagnósticos ou terapias baseados em biologia molecular. 
Apesar dessa 
complexidade, há vários indícios de uma ligação entre o déficit de atenção e a 
hiperatividade e o sistema de mensageiros químicos do cérebro, em especial a 
chamada dopamina. Mais especificamente, haveria algum problema no chamado 
sistema de recompensa, o aparato cerebral que diz à pessoa quando ela está 
“saciada”, quando é hora de parar com determinado comportamento. 
No 
estudo de Claiton Bau e seus colegas, feito com adultos com sintomas de DTAH, os 
pesquisadores encontraram uma probabilidade significativamente aumentada de 
fumar em relação ao resto da população. Os pesquisadores dizem acreditar que se 
trata de uma armadilha genética: o contato com a nicotina funcionaria, para 
essas pessoas, como uma espécie de suplemento cognitivo, ajudando-as a vencer a 
dificuldade de se concentrar. 
Bau conta que parece haver uma confirmação 
genética do fenômeno em variantes do gene ADRA2A, que também está ligado à 
predisposição para o vício em fumo. De posse desses dados e do diagnóstico do 
déficit de atenção e hiperatividade em crianças, por exemplo, seria possível 
trabalhar diretamente na prevenção do vício entre esse “grupo de risco”. 
“Poderíamos prevenir ou minimizar o abuso de substâncias entre essa população”, 
avalia ele.