Tabaco: Maior «shopping» da
Península Ibérica livre de fumo
A
partir de Janeiro, o fumo fica à porta do Centro Colombo,
Lisboa, onde se acredita que esta medida imposta pela lei não
implicará perda de visitantes e se aposta na informação e na
pedagogia para dissuadir fumadores.
«Os aviões também não deixaram de voar quando foi proibido
fumar. Ninguém vai deixar de vir ao Colombo», afirmou em
entrevista à agência Lusa António Bettencourt, director-geral
do maior centro comercial da Península Ibérica, adiantando
que, para si, «é um dado adquirido» que a inibição de fumar
não irá afastar clientes.
Dentro de duas semanas, as cerca de 80 mil pessoas que em
média visitam diariamente o Colombo começarão a ser informadas
das restrições decorrentes da nova Lei do Tabaco através de
avisos nas entradas do edifício.
Também em breve os vigilantes que trabalham no centro terão
«formação completa e específica» nesta matéria, disse António
Bettencourt, salientando que será dada «especial atenção» à
forma de abordar os eventuais «prevaricadores».
«Tem de haver uma atitude de muito bom senso e paciência
com alguns dos "prevaricadores". Não queremos ser agressivos
com ninguém e teremos muito cuidado com a aproximação aos
incumpridores», declarou, ressalvando, contudo, que em «casos
limite» recorrerão às autoridades.
Ainda assim, o responsável máximo do Colombo acredita que
não vão surgir «pontos de conflito» e que apenas pontualmente
haverá clientes mais relutantes em aderir a estas regras.
A partir do primeiro dia do ano, haverá dísticos espalhados
pelo centro com a indicação de que é proibido fumar e os
actuais cinzeiros serão aproveitados para dar aos fumadores
uma derradeira oportunidade de apagarem os cigarros.
Os restaurantes fechados e com mais de 100 metros quadrados
poderão ser a única excepção à proibição total de fumar no
edifício até ao terceiro trimestre de 2008, uma vez que a
criação de áreas para fumadores está ainda a ser analisada à
luz da remodelação global do centro.
Uma das áreas onde deverão ser criadas zonas de fumadores é
no actual espaço de restauração aberto, denominado Cidade
Perdida, onde numa primeira fase vigorará a proibição total de
fumar.
Segundo o responsável do Colombo, a delimitação de mais
áreas para fumadores será ponderada à medida das necessidades
que a aplicação da lei for revelando.
De acordo com a lei do tabaco, que entra em vigor a 01 de
Janeiro, é proibido fumar »nos conjuntos e grandes superfícies
comerciais e nos estabelecimentos comerciais de venda ao
público«, excepto nas áreas ao ar livre e em zonas
expressamente previstas para o efeito.
Estas áreas têm de obedecer aos seguintes requisitos: estar
devidamente sinalizadas, separadas fisicamente das restantes
instalações, ou dispor de dispositivo de ventilação que evite
que o fumo se espalhe às áreas contíguas, e desde que seja
garantida a ventilação directa para o exterior através de um
sistema de extracção de ar.
A direcção do Centro Colombo tem vindo a promover encontros
com os responsáveis das mais de 400 lojas no sentido de
explicar as alterações que vigorarão a partir do início do ano
e, no caso dos restaurantes, António Bettencourt acredita que
a maioria dos que têm mais de 100 metros quadrados optará por
criar zonas de fumadores.
No entanto, na cervejaria Lusitânia, onde actualmente há
zonas distintas para fumadores e não fumadores, o espaço será
totalmente livre de fumo com a entrada em vigor da nova lei.
«A lei obriga a uma extracção de fumos muito forte e a uma
zona muito bem delimitada para os fumadores. Como é complexo
fazê-lo, o restaurante passará a ser todo para não fumadores»,
justificou à Lusa Rui Silva, responsável pelo espaço.
Apesar da indignação demonstrada por alguns clientes que já
estão a ser previamente avisados da alteração, Rui Silva
acredita que, como em todo o centro é proibido fumar, ninguém
terá problemas em optar por um restaurante onde o fumo é
interdito.
Reacções mais adversas têm surgido, segundo Rui Silva, dos
empregados da casa que serão obrigados a fumar à entrada e
saída do trabalho, já que a distância a que estão da rua e a
natureza do serviço dificultam os intervalos para fumar.
Com o mesmo problema deverão deparar-se os funcionários da
Zara que têm 15 minutos de intervalo para fumar e comer.
«Se vão lá fora fumar perdem o tempo do intervalo. Ou comem
ou fumam», comentou à Lusa Isabel Vilelas, gerente da loja
102A da Zara, ressalvando que a maioria dos seus cerca de 70
colegas não fuma.
Entre os clientes fumadores do centro, as opiniões
dividem-se: há quem nada se incomode com as novas regras e
quem equacione transferir as suas visitas para centros
comerciais ao ar livre ou para a Baixa lisboeta.
«Não sei se deixarei de vir, mas certamente as minhas
visitas serão mais curtas. Ou então, posso optar por procurar
centros ao ar livre ou ir para a Baixa», disse à Lusa Ana
Muchacho, uma fumadora que já tentou várias vezes sem sucesso
deixar o vício.
Um dos 10 maiores centros comerciais da Europa, o Colombo
tem uma área de quase 120 mil metros quadrados, distribuídos
por três pisos.
Emprega cinco mil pessoas e recebe anualmente 28 milhões de
visitantes.
Numa década, registou um volume de vendas de 4,2 mil
milhões de euros, verba superior ao custo estimado para a
construção do novo aeroporto internacional de Lisboa na Ota.
Diário Digital / Lusa
05-12-2007 12:00:00
|