Nós, os bebés, temos
especificidades, como passo a relatar. Desde a concepção até à idade
de dois anos, possuímos um ritmo de crescimento extraordinariamente
rápido. Diariamente, a cada segundo que passa, as células do nosso
cérebro e dos nossos pulmões multiplicam-se e desenvolvem-se para
que possamos ter um amanhã cheio de saúde. Precisamos, pois, a todo
o instante, de um regime alimentar cuidado, precisamos de amor, de
luz... e de ar puro. Ora, o fumo do tabaco é para nós a primeira
fonte de poluição doméstica evitável. É público e notório que somos
vítimas do tabagismo passivo, ou seja, estamos involuntariamente
expostos ao fumo dos outros. É inútil repetir aquilo que toda a
gente sabe: este fumo contém produtos tóxicos que são devastadores
para o nosso organismo imaturo e em pleno crescimento. Pensando
nas nossas mães, é justo realçar que as grávidas fumadoras, como as
não fumadoras expostas quotidianamente ao fumo do papá (ou de
qualquer outra pessoa), têm um risco acrescido de ter bebés cujo
peso à nascença é inferior ao normal. Pois bem, esta insuficiência
de peso aumenta o risco de mortalidade e de doença nos
recém-nascidos e mais tarde nas crianças. Além disso, as mães
fumadoras que aleitam transmitem no seu leite produtos nocivos
provenientes do tabaco. Não me interessa um discurso melodramático,
mas o apelo que faço às nossas mães é, de facto, um alerta. Se a mãe
fuma durante a gravidez, a quantidade de oxigénio e de elementos
nutritivos absorvidos pelo feto é afectada. Está, aliás,
perfeitamente identificado o nexo entre o fumo e o número de
nado-mortos, partos prematuros e morte durante as nossas primeiras
semanas de vida. Calcula-se que o tabagismo da mãe, durante e após a
gravidez, seja responsável por 1/4 do risco da morte súbita do
recém-nascido. Além disso, uma das principais consequências do
tabagismo dos pais é o aparecimento de infecções em cadeia nos
bebés. As mais frequentes são a rino-faringite, a pneumonia, a
otite, a bronquite e a asma. Para sermos felizes, é
indispensável que toda a família participe. Os pais têm nove meses
para nos preparar um quadro de vida onde o nosso bem-estar seja uma
prioridade. Não é desvantajoso recordar que a principal etapa para
um ambiente saudável começa no nosso quarto. Um quarto que seja
silencioso, bem arejado, e, fundamentalmente, sem fumo de tabaco
Mais tarde, quando começamos a gatinhar, há situações de
segurança que poderão envolver o tabaco. Passo a explicar. Um
ambiente saudável é também um lugar onde se pode crescer em
segurança. Nas nossas casas, espreitam múltiplos perigos de que nem
sempre há consciência. Ao gatinhar, procuramos tocar, alcançar
objectos, e neles se incluem cigarros, fósforos, isqueiros. Ah, o
tabagismo dos adultos provoca igualmente riscos de queimadura ou
asfixia causados por um cigarro incandescente. Bem, não queremos
um ambiente saudável só para nós, é nosso desejo partilhá-lo com os
nossos pais: se o fumo é nocivo para os bebés, por maioria de razão
também o é para os adultos. Sabemos que a desabituação tabágica
não é fácil, mas aí estão os milhões de não fumadores que
voluntariamente abandonaram o vício para comprovar que é possível.
Fumar não se reduz a um simples hábito. Fumar regularmente
provoca no fumador uma dupla dependência, psicológica e física, que
estão intimamente associadas. Negligenciar a dependência psicológica
é arriscar um insucesso na decisão de deixar de fumar. Queridos
Pais de bebés não fumadores, tomem em consideração as chaves do
sucesso para deixar de fumar: que a decisão seja pessoal; saibam
recorrer a todas as formas de apoio, com reconhecimento de
idoneidade; descubram as verdadeiras formas de compensação/
substituição para o tabaco; escolham o melhor momento para deixar de
fumar (é uma opção pessoal, mas requer distensão). Regra geral, é
preferível deixar de fumar completamente de um dia para o outro ¾ é
o método que, comprovadamente, apresenta melhores resultados.
Façam-se ajudar pelo meio circundante (anunciem publicamente a vossa
decisão) e peçam ajuda ao médico de família. A programação dos
acontecimentos pode produzir resultados efectivos: fixar a data em
que se deixa de fumar, preparar um programa de lazeres sem tabaco,
(re)começar a prática de uma actividade física, atribuir uma
compensação com o dinheiro que se poupa nos cigarros, por
exemplo. Em caso de insucesso, não desmoralizem e recomecem, pois
as hipóteses de sucesso permanente aumentam com o número de
experiências precedentes, reconhecendo que se falhou porque o
momento foi mal escolhido ou a preparação insuficiente. Queridos
Pais, tomem em consideração as vantagens de deixar de fumar: vive-se
mais tempo e com mais qualidade; melhora-se a forma física;
regulariza-se a circulação sanguínea da pele; retoma-se o verdadeiro
sabor dos alimentos; restabelece-se o bom hálito, a roupa e a pele
deixam de andar impregnadas pelo odor do tabaco; há uma
significativa redução dos perigos da bronquite crónica, afecções
vasculares, cancros, e outros tipos de sofrimentos. Queridos
Pais, aceitamos que pensem antes de mais no nosso bem-estar e no
nosso desenvolvimento saudável, mas apelamo-vos para que comecem a
reflectir em deixar de fumar, usando a forte determinação, medicinas
alternativas, frequentando centros de desabituação tabágica,
tratando-se com o penso nicótico (se os médicos entenderem que não
há contra-indicações), ou métodos dignos de crédito como o “plano
dos cinco dias”. Que fique bem claro que os bebés não fumadores
terão mais alegria e crescerão mais felizes com papás não
fumadores. Agradecemos publicamente todos os esforços nesse
sentido, e despedimo-nos com a ternura de quem se sente pertencer à
primeira geração de não fumadores da História. Falem com o vosso
médico ou o vosso farmacêutico, por favor.
Beja
Santos |