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Ed. de 2007-07-27
  Edição 91
  de 2007-09-06

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Opinião - Qualidade
Consumo e qualidade de vida
Carta Aberta de um bebé não fumador


Venho agradecer publicamente aos meus papás terem seriamente pensado em mim e na saúde deles quando, por feliz inspiração, tomaram a decisão de não voltar a fumar. Por imperativos de entusiasmo, falo primeiro em mim e depois deles.

Nós, os bebés, temos especificidades, como passo a relatar. Desde a concepção até à idade de dois anos, possuímos um ritmo de crescimento extraordinariamente rápido. Diariamente, a cada segundo que passa, as células do nosso cérebro e dos nossos pulmões multiplicam-se e desenvolvem-se para que possamos ter um amanhã cheio de saúde. Precisamos, pois, a todo o instante, de um regime alimentar cuidado, precisamos de amor, de luz... e de ar puro. Ora, o fumo do tabaco é para nós a primeira fonte de poluição doméstica evitável. É público e notório que somos vítimas do tabagismo passivo, ou seja, estamos involuntariamente expostos ao fumo dos outros. É inútil repetir aquilo que toda a gente sabe: este fumo contém produtos tóxicos que são devastadores para o nosso organismo imaturo e em pleno crescimento.
Pensando nas nossas mães, é justo realçar que as grávidas fumadoras, como as não fumadoras expostas quotidianamente ao fumo do papá (ou de qualquer outra pessoa), têm um risco acrescido de ter bebés cujo peso à nascença é inferior ao normal. Pois bem, esta insuficiência de peso aumenta o risco de mortalidade e de doença nos recém-nascidos e mais tarde nas crianças. Além disso, as mães fumadoras que aleitam transmitem no seu leite produtos nocivos provenientes do tabaco. Não me interessa um discurso melodramático, mas o apelo que faço às nossas mães é, de facto, um alerta. Se a mãe fuma durante a gravidez, a quantidade de oxigénio e de elementos nutritivos absorvidos pelo feto é afectada. Está, aliás, perfeitamente identificado o nexo entre o fumo e o número de nado-mortos, partos prematuros e morte durante as nossas primeiras semanas de vida. Calcula-se que o tabagismo da mãe, durante e após a gravidez, seja responsável por 1/4 do risco da morte súbita do recém-nascido. Além disso, uma das principais consequências do tabagismo dos pais é o aparecimento de infecções em cadeia nos bebés. As mais frequentes são a rino-faringite, a pneumonia, a otite, a bronquite e a asma.
Para sermos felizes, é indispensável que toda a família participe. Os pais têm nove meses para nos preparar um quadro de vida onde o nosso bem-estar seja uma prioridade. Não é desvantajoso recordar que a principal etapa para um ambiente saudável começa no nosso quarto. Um quarto que seja silencioso, bem arejado, e, fundamentalmente, sem fumo de tabaco
Mais tarde, quando começamos a gatinhar, há situações de segurança que poderão envolver o tabaco. Passo a explicar. Um ambiente saudável é também um lugar onde se pode crescer em segurança. Nas nossas casas, espreitam múltiplos perigos de que nem sempre há consciência. Ao gatinhar, procuramos tocar, alcançar objectos, e neles se incluem cigarros, fósforos, isqueiros. Ah, o tabagismo dos adultos provoca igualmente riscos de queimadura ou asfixia causados por um cigarro incandescente.
Bem, não queremos um ambiente saudável só para nós, é nosso desejo partilhá-lo com os nossos pais: se o fumo é nocivo para os bebés, por maioria de razão também o é para os adultos.
Sabemos que a desabituação tabágica não é fácil, mas aí estão os milhões de não fumadores que voluntariamente abandonaram o vício para comprovar que é possível.
Fumar não se reduz a um simples hábito. Fumar regularmente provoca no fumador uma dupla dependência, psicológica e física, que estão intimamente associadas. Negligenciar a dependência psicológica é arriscar um insucesso na decisão de deixar de fumar.
Queridos Pais de bebés não fumadores, tomem em consideração as chaves do sucesso para deixar de fumar: que a decisão seja pessoal; saibam recorrer a todas as formas de apoio, com reconhecimento de idoneidade; descubram as verdadeiras formas de compensação/ substituição para o tabaco; escolham o melhor momento para deixar de fumar (é uma opção pessoal, mas requer distensão). Regra geral, é preferível deixar de fumar completamente de um dia para o outro ¾ é o método que, comprovadamente, apresenta melhores resultados. Façam-se ajudar pelo meio circundante (anunciem publicamente a vossa decisão) e peçam ajuda ao médico de família. A programação dos acontecimentos pode produzir resultados efectivos: fixar a data em que se deixa de fumar, preparar um programa de lazeres sem tabaco, (re)começar a prática de uma actividade física, atribuir uma compensação com o dinheiro que se poupa nos cigarros, por exemplo.
Em caso de insucesso, não desmoralizem e recomecem, pois as hipóteses de sucesso permanente aumentam com o número de experiências precedentes, reconhecendo que se falhou porque o momento foi mal escolhido ou a preparação insuficiente. Queridos Pais, tomem em consideração as vantagens de deixar de fumar: vive-se mais tempo e com mais qualidade; melhora-se a forma física; regulariza-se a circulação sanguínea da pele; retoma-se o verdadeiro sabor dos alimentos; restabelece-se o bom hálito, a roupa e a pele deixam de andar impregnadas pelo odor do tabaco; há uma significativa redução dos perigos da bronquite crónica, afecções vasculares, cancros, e outros tipos de sofrimentos.
Queridos Pais, aceitamos que pensem antes de mais no nosso bem-estar e no nosso desenvolvimento saudável, mas apelamo-vos para que comecem a reflectir em deixar de fumar, usando a forte determinação, medicinas alternativas, frequentando centros de desabituação tabágica, tratando-se com o penso nicótico (se os médicos entenderem que não há contra-indicações), ou métodos dignos de crédito como o “plano dos cinco dias”. Que fique bem claro que os bebés não fumadores terão mais alegria e crescerão mais felizes com papás não fumadores.
Agradecemos publicamente todos os esforços nesse sentido, e despedimo-nos com a ternura de quem se sente pertencer à primeira geração de não fumadores da História. Falem com o vosso médico ou o vosso farmacêutico, por favor.

Beja Santos

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