Juan
Palop
O Japão está abandonando sua
tradicional permissividade com o cigarro e restringe cada vez
mais o consumo em espaço públicos, chegando a proibi-lo nos
táxis de três províncias ou em bairros inteiros de Tokyo,
Nagoya e Kyoto.
Apesar de atrasado em relação a
outros países desenvolvidos, o terceiro maior consumidor de
cigarros do mundo - após China e Estados Unidos - adota
medidas legais contra o hábito, seguindo os compromissos
internacionais sobre essa questão e apesar da "dependência
financeira" do governo japonês a essa indústria.
No dia 11 foi dado um passo a
mais nesse sentido, ao entrar em vigor a proibição de fumar no
interior de cerca de 14 mil táxis de Kanagawa. A província
transforma-se dessa forma na terceira a adotar as restrições,
depois de Oita e Nagano.
Os táxis de Kanagawa exibem
cartazes com o símbolo de proibido fumar e oferecem cinzeiros
portáteis para clientes que queiram sair dos veículos e
acender o cigarro fora.
A única grande cidade japonesa
que adotou uma medida semelhante foi Nagoya (Aichi), onde a
proibição nos táxis entrou em vigor em maio, enquanto nas
grandes cidades como Tokyo e Osaka está o hábito é permitido.
REFLEXO
SOCIAL
O consumo de cigarros é muito
comum no Japão, onde mais de 33% da população e mais de 50%
dos homens fumam, o que representa uma das maiores taxas entre
os países industrializados, segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS).
Além disso, o Japão é um dos
países onde os fumantes consomem o maior número de cigarros,
com uma média anual de 7.623, algo em torno de 20 por dia, uma
quantidade relacionada com o preço do maço (cerca de ¥
300).
Isso tem um reflexo social que
faz com que na maioria dos locais públicos do Japão seja
permitido fumar, inclusive em restaurantes.
Uma notável exceção na capital
são os bairros de Chiyoda e Shinjuku - onde se encontra o
Palácio Imperial e a maior parte dos edifícios do governo -
nos quais está proibido fumar na rua há vários anos.
As cidades de Nagoya e Kyoto
também introduziram medidas semelhantes para evitar que se
fume em algumas áreas, alegando em alguns casos que
prejudicava o turismo.
Segundo alguns analistas, essa
situação anacrônica para uma sociedade com o grau de
desenvolvimento japonês está ligado ao fato de que o governo
japonês é proprietário de 50% da Japan Tobacco, terceira maior
produtora mundial de cigarros.
Atualmente, essa empresa domina
o mercado local com cerca de 200 marcas diferentes e conta com
11% do mercado mundial de venda de cigarros após a aquisição
há britânica Gallaher, há meio ano.
O governo japonês, por sua vez,
está tomando medidas nesse sentido baseada na aplicação do
Convênio Mundial Contra o Tabaco da OMS, o primeiro tratado
mundial sobre esse tema, que envolve, entre outras questões,
endurecer os suaves textos de advertência dos maços de cigarro
e aplicar programas que facilitem abandonar o
hábito.
Em 1999, o Ministério da Saúde
do Japão propôs reduzir o número de fumantes em 50% até 2010,
uma meta que pelo ritmo atual, parece difícil de
alcançar.