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Jornal da Madeira / Região / 2007-07-15
Médica Cardiologista Eva Pereira diz-se desiludida com nova lei do tabaco
Estudos científicos ficam de fora da lei do tabaco
Se todos os fumadores portugueses tivessem cessado o consumo do tabaco em 2005 teria havido menos 6200 mortos e teriam sido reduzidos em cerca de 64 milhões de euros os custos nos internamentos hospitalares e em 80 milhões de euros nos cuidados ambulatórios. Estes números estão incertos num estudo sobre o “Custo e Carga da Doença do Tabagismo em Portugal”. A médica cardiologista, Eva Pereira, lamenta que os estudos técnicos e científicos não tenham merecido maior atenção por parte do legislador.
Eva Pereira, médica cardiologista e membro da delegação regional da Fundação Portuguesa de Cardiologia, lamenta que a nova lei do tabaco não tenha contemplado os relatórios e estudos dos profissionais de saúde.
“É preciso legislação adequada que torne obrigatório aquilo que tantas vezes falamos, mas os legisladores não acompanham os estudos dos profissionais da saúde”, destacou aquela responsável.
A médica cardiologista, referia-se ao estudo sobre “Carga e Custo da Doença do Tabagismo em Portugal” conduzido pelo Professor Miguel Gouveia, do Centro de Estudos Aplicados, da Universidade Católica Portuguesa.

430 milhões de euros
gastos pela Saúde

Tomando como base dados para 2005, e porque uma primeira forma de medir os efeitos na saúde é pelo impacto na mortalidade, segundo o estudo, no ano em apreço, no nosso país, morreram cerca de 108 mil pessoas. “Estimamos que o tabaco tenha sido responsável por cerca de 12.600, o que representa 11.7%”, revela o trabalho divulgado pela Direcção-Geral de Saúde.
A este propósito, Eva Pereira confessa que esperava valores ainda mais significativos. “Mesmo assim são números para levar em consideração e para serem tomadas mais medidas preventivas sérias. Constatámos diariamente, no sector da cardiologia, especialmente nos mais jovens, por vezes o único factor de risco é o de serem fumadores”.
Sobre a nova lei de restrição ao consumo do tabaco, a cardiologista foi peremptória: “Acho que vamos ficar na mesma. Afinal todos os estudos que foram feitos não tiveram qualquer influência sobre os legisladores”.
Para Eva Pereira, o não-fumador é quem deve ser mais exigente com aqueles que insistem em não respeitar os mais elementares direitos dos cidadãos.

Sem tabaco haveria
menos 6.000 mortos

O estudo em referência aponta outros dados preocupantes, nomeadamente o facto de “se todos os fumadores portugueses tivessem cessado o consumo de tabaco em 2005 teria havido menos 6.200 mortos”.
Do lado dos custos, é referido que o tabaco tenha sido responsável por 126 milhões de euros em custos com internamentos hospitalares e por mais de 308 milhões de euros em custos no ambulatório (medicamentos, consultas em centros de saúde e nos hospitais, meios complementares de diagnóstico, etc.). “Se os fumadores portugueses tivessem cessado o consumo de tabaco, os custos teriam sido reduzidos em cerca de 64 milhões de euros nos internamentos hospitalares e, no mínimo, em 80 milhões de euros nos cuidados ambulatórios”, realça o mesmo documento.
Para a cardiologista madeirense “é pena que estes elementos não tenham exercido sobre os nossos legisladores o impacto que mereciam e julgo que as tabaqueiras ainda têm muito poder”.
Ao nível dos custos com as doenças do tabaco, a médica cardiologista não esconde a sua revolta com aquilo a que entende ser uma relação perversa: “Os impostos que o Estado arrecada com o tabaco, se calhar justifica a invalidez, as incapacidades, os tratamentos e as mortes das pessoas”.


Nova lei do tabaco entra em vigor a 1 de Janeiro de 2008
Mais tolerante do que o diploma inicialmente apresentado pelo Governo da República, em Março, a nova lei do tabaco, apresenta uma redução de mil para 750 euros no limite máximo das multas a aplicar a fumadores transgressores e autoriza os proprietários dos estabelecimentos mais pequenos a escolher se querem ou não ser espaços sem fumo, o que lhes era imposto segundo a formulação inicial.
Desta forma, cada proprietário poderá decidir se quer ser um espaço para não fumadores, para fumadores ou para ambos, desde que fique garantida a qualidade do ar para os não fumadores.
Quanto aos estabelecimentos com mais de 100 metros quadrados, mantém-se a obrigação de serem destinados a não fumadores, embora possam ter um espaço para fumadores, desde que não ultrapasse 30 por cento do total do espaço.
 

 

 

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