Pobres gastam 3 vezes mais com cigarro que
em cultura
Data: 21/10/2007
Os gastos relacionados ao fumo são 34%
superiores às despesas com cultura nas famílias
limeirenses. O dado pertence à pesquisa “Brasil em
Foco 2007”, publicada pela empresa Target Marketing
com base em informações divulgadas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras
instituições oficiais.
Tendo como ano-base
2005, os limeirenses gastaram R$ 36,5 milhões em
cigarros, charutos, fumos para cachimbo e artigos para
fumantes, como fósforos e isqueiros. Já os gastos com
cinema, teatro, futebol, CDs, discos de vinil, fitas
cassetes, disquetes, artigos esportivos e de camping,
jornais, revistas, mensalidades e taxas de clubes,
classificados como recreação e cultura, somaram R$
27,1 milhões.
Nos gastos com fumo, as 23.877
famílias da classe C, com renda mensal de R$ 497 a R$
1.064, são as que mais investem, seguida pela classe B
(R$ 1.065 e R$ 2.943) com R$ 10,7 milhões e da classe
A, acima de R$ 2.944, com R$ 3,2 milhões.
Já as
437 famílias da classe D (R$ 263 a R$ 496) e as 229 da
classe E (até R$ 262) gastaram juntas R$ 7 milhões,
sendo R$ 6,5 milhões na D e R$ 496 mil na E, uma média
de R$ 666 ao longo do ano com o fumo. Já em cultura,
as duas classes somadas gastaram R$ 1,7 milhão, média
de R$ 163 por família. Ou seja, os gastos com o fumo
nas famílias mais pobres são trez vezes superiores com
relação à cultura.
Na classe D, uma fumante desde
os 16 anos, que pediu anonimato, diz que gasta R$ 50
por mês com o cigarro, média de um maço a cada dois
dias. Ela diz preferir gastar com o cigarro a assistir
uma peça sem o maço. “É insuportável a vontade de
fumar. Tentei parar várias vezes e já pedi ajuda
médica. Sei que está prejudicando o orçamento de
casa”, diz.
A professora de economia do Isca
Faculdades, Andréia de Deus, mostrou-se surpresa com
os dados e ressaltou que esta realidade dá um impacto
impressionante sobre o preço do vício. “Já constatei,
em pesquisas junto com alunos, que há pais de família
que dizem não ter dinheiro para comprar leite para o
filho, mas não deixam de comprar uma maço de cigarro”,
diz.
Ela lembra ainda que a opção por cultura vem
de formação através da educação. “As famílias mais
pobres não têm a acesso a escola e, no orçamento,
fazem prioridades. Elas não concebem a importância da
cultura, que acaba ficando de lado. O vício do cigarro
é como se alimentar. Um maço custa R$ 2, enquanto uma
peça, no mínimo, sai por R$ 20. O fumo cabe no
orçamento dessas famílias; a cultura, não”.
Para
Andréia, a realidade acompanha a do País. “Muitos pais
e mães fumam perto de filhos pequenos, principalmente
nas classes mais pobres. As crianças crescem e
incorporam esse hábito”. Ela defende que mais
políticas públicas sejam voltadas à difusão de
cultura, bem como iniciativas privadas.
(RS)
Gastos por família em R$ - ano
2005
Cigarro Cultura
Classe A 2.557
3.344
Classe B 1.776 2.571
Classe C 628
209
Classe D 437 107
Classe E 229
163
Fonte: Brasil em Foco - Target Marketing
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