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terça-feira, 23 de Outubro de 2007 - 18:00
Açucares e cacau
entre os 289 aditivos usados para aumentar a dependência
A
tabaqueira Altadis - que comercializa marcas como Gauloises, Ducados e
Fortuna e atingiu um volume de vendas de 1938 milhões de euros no primeiro
semestre deste ano - publicou a lista completa de todos os aditivos
utilizados na confecção de cigarros. No total, esta tabaqueira
multinacional adiciona 289 substâncias ao tabaco, entre as quais se
encontra o cacau e açucares, utilizados para criar dependência.
A
lista de aditivos da Altadis foi publicada segunda-feira no diário
espanhol “El Pais” e surge na sequência da obrigação imposta às
tabaqueiras pelo Ministério da Saúde espanhol de comunicareme as
substâncias usadas nos cigarros.
Perante os 289 aditivos usados
nos cigarros, um perito do Laboratório Agroalimentar da Junta de
Andaluzia, concluiu ao diário espanhol que "os cigarros são uma obra de
engenharia para aumentar a dependência. As tabacarias estão anos à nossa
frente e, apesar de afirmarem que a maioria dos compostos são aroma, na
realidade têm outras funções, muitas das quais
desconhecemos".
Michael Rabinoff, professor da universidade da
Califórnia e autor de um estudo sobre aditivos do tabaco, vai mais longe.
"Cerca de 90% de cada cigarro é tabaco, já de si criador de dependência e
cancerígeno, mas 10% são aditivos, compostos químicos de que sabemos muito
pouco e cuja segurança ninguém avaliou. As tabaqueiras estão a efectuar um
ensaio científico em grande escala com milhões de pessoas".
Entre
os 289 produtos adicionados ao tabaco encontram-se os açucares, mais de 4%
do cigarro que ao queimar produz acetaldeído, aumentando o efeito da
nicotina, os derivados do cacau, cujo sabor é adocicado e actuam como
broncodilatadores facilitando a chegada da nicotina aos alvéolos, o mentol
e o ácido acetilsalicílico, que evitam a irritação da garganta, e a
lactona, que inibe a enzima que metaboliza a nicotina, permitindo que esta
fique mais tempo no sangue e aumente a dependência.
As marcas
declaram uma dada quantidade de nicotina, mas o efeito dos aditivos -
através da acidez e do bloqueio de enzimas que destroem a nicotina - acaba
por aumentar substancialmente a concentração da substância no sangue.
Aumenta-se a dependência e, pela mesma via, disfarçam-se os efeitos mais
desagradáveis do cigarro, como a tosse e o sabor, recorrendo a
aromas.
A prova de que funciona é que quando a Philip Morris
introduziu os aditivos, nos anos 70, as vendas da Marlboro
dispararam.
Inês de Matos
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