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Bandeirantes implanta ações para obter selo contra cigarro
Quarta-feira, 26 de Setembro de 2007 às 10h54
O Palácio dos Bandeirantes também corre atrás da certificação conferida pelo Programa de Promoção de Ambientes Livres do Tabaco, lançado pelo governador José Serra em agosto passado. Para conquistar o selo, a sede do governo estadual está seguindo os passos estipulados pelo programa. Desde o último dia 17, funcionários e visitantes não podem mais fumar nas dependências internas, externas e dentro dos veículos do Palácio.
Outras medidas também foram tomadas, como a retirada de todos os cinzeiros existentes no entorno dos jardins e desativação dos três fumódromos informais instalados na área externa do Palácio. Além disso, a sinalização da proibição do cigarro será ampliada nas dependências da sede do governo estadual e os veículos receberão adesivos de “Espaço Livre de Tabaco”. Os funcionários da recepção serão treinados a orientar os visitantes sobre a proibição – para reforçar o aviso, estão sendo elaborados cartões com a informação de que o Palácio é um ambiente livre de tabaco, portanto, o cigarro é proibido.
Trabalham no Bandeirantes 950 pessoas, das quais cerca de 190 são fumantes. Entre os visitantes, em torno de 4.200 por mês, estima-se que 20% façam uso de tabaco. O programa foi implantado para conscientizar esses fumantes, ressalta Silvia Regina Aléssio, diretora do departamento de Recursos Humanos do Palácio. “Não se trata de caça às bruxas. Nosso objetivo é que as pessoas parem de fumar. O foco é a qualidade de vida”, diz Silvia.
Ajuda terapêutica
O Palácio dos Bandeirantes deve solicitar o selo ao Comitê Estadual para Promoção de Ambientes Livres de Tabaco (Cepalt), formado por representantes da Secretaria Estadual da Saúde, em parceria com universidades e membros da sociedade civil, no dia 28 de setembro, um mês depois do lançamento do programa.
De acordo com Silvia Aléssio, isso só será possível porque a sede do governo já trabalha na conscientização dos funcionários para a melhoria da qualidade de vida e o fim do uso do tabaco desde 2005, por meio do Programa de Terapia Tabagística.
Para participar do programa, os funcionários interessados se inscrevem e são chamados para uma entrevista individual. Recebem uma cópia da cartilha de orientação e passam por testes para verificar o nível de dependência física, psíquica e comportamental do tabaco. No passo seguinte, são encaminhados para seis sessões de terapia em grupo, onde narram suas conquistas e dificuldades para alcançar a meta de deixar de fumar. Nesse processo são acompanhados por uma equipe formada por médico, psicólogo e assistente social.
Em julho do ano passado, o programa passou a oferecer medicamentos aos participantes do programa que têm maior dificuldade de deixar o vício. Mas os medicamentos só começam a ser ministrados após a terceira sessão de terapia.
A equipe que acompanha os grupos toma alguns cuidados para garantir o sucesso das ações, como ficar de prontidão para os momentos de abstinência, acompanhar o quadro clínico dos servidores e registrar o que acontece nas sessões para trabalhar na orientação dos participantes.
Índice de sucesso
Este ano, 58 funcionários se inscreveram para o programa. Desses, 35 estão passando pelas sessões de terapia. Em 2006, foram 115 inscritos. Dos 87 que começaram a freqüentar as sessões de terapia cognitiva-comportamental, ms somente 67 foram em todas. Ao fim do tratamento, 22 tinham conseguido parar de fumar, porém, após seis meses de acompanhamento, esse número caiu para 13 pessoas. Mesmo assim, o resultado é considerado positivo.
“Nossa média terapêutica é boa de acordo com parâmetros internacionais. O índice de efetividade do programa é de 15%”, destaca o diretor do Centro de Desenvolvimento Pessoal da Casa Civil (CDP), Carlos Humberto Gothchalk.
Para se ter uma idéia, no Canadá, que tem o mais alto índice de efetividade em tratamentos desse tipo, entre 23% e 24% dos fumantes que iniciam trabalhos semelhantes conseguem abandonar o vício. Em segundo lugar aparecem os Estados Unidos, com 18% a 20% de efetividade. O Brasil fica em terceiro lugar, com 15% a 20% de sucesso nesse tipo de tratamento.
O Programa de Terapia Tabagística do Palácio continua aberto aos que participaram anteriormente mas voltaram a fumar. Esse é o caso de Cleuza Ribeiro, diretora do núcleo de acolhimento do Centro de Convivência Infantil. Ela participou das sessões de terapia em grupo em outubro do ano passado e chegou a abandonar o cigarro por algum tempo. Em janeiro deste ano, porém, voltou a fumar.
“Relutei em retornar ao programa por vergonha da recaída. Só consegui graças ao incentivo de duas colegas que também voltaram a participar das sessões”, relatou Cleuza, que já compareceu a três sessões e está parando de fumar gradativamente.
Cigarro x caminhada
Cleuzenir Souto de Assumpção, diretora do Núcleo de Pessoal do Fundo Social de Solidariedade, conseguiu abandonar o cigarro com auxílio do programa de Terapia Tabagística do Palácio. Cléu, como é conhecida, deixou de fumar há 1 ano.
“Fui ao Parque do Ibirapuera fiz um buraco e enterrei o maço de cigarros. Durante o ‘enterro’ falei que ele tinha sido meu companheiro durante 40 anos, agradeci os momentos felizes e tristes que tivemos e disse que não o queria mais. Troquei o cigarro pela caminhada”, contou. Atualmente, ela faz caminhada no Parque do Ibirapuera todos os dias.
Cléu relata que já havia feito outras tentativas de parar de fumar, sem sucesso. Um dos motivos era o custo dos medicamentos que recebeu gratuitamente no programa. A goma de mascar usada no tratamento custa nas farmácias R$ 35,00 e são necessárias pelo menos duas caixas. Já o adesivo é vendido por R$ 44,00 e é preciso comprar três caixas do medicamento. Em alguns casos, é necessário também fazer uso de um anti-depressivo, que custa R$ 108,00. Esse medicamento, porém, só deve ser usado com orientação médica.
Além de trocar o vício por um hábito saudável, Cléu vê outra vantagem em abandonar o tabaco. Ela voltou a sentir o sabor dos alimentos. De acordo com Silvia Aléssia, o resgate de outros prazeres, como sentir o cheiro do próprio corpo, o sabor dos alimentos, respirar com mais facilidade e conseguir caminhar sem que a respiração fique ofegante são alguns dos atrativos que utilizam para incentivar o abandono do cigarro.
Dinheiro no bolso
O motorista Luiz Irineu Silveira, de 53 anos ainda participa das sessões de terapia do programa do Palácio. Fumante há 14 anos, Irineu decidiu parar de fumar depois que um amigo sofreu um infarto. “Gosto muito de mim e tenho um filho para criar”, afirmou ele, que está conseguindo abandonar o vício sem o uso de medicamentos.
‘“Já tomei café e chopp e fiquei perto de pessoas que fumam e resisti. Estou decidido, não vou fumar mais”, disse ele. Irineu ainda não conseguiu recuperar olfato, paladar e fôlego, mas já vê vantagens em abandonar o cigarro. “Agora sempre tenho dinheiro no bolso”, comemora o motorista, que gastava cerca de R$ 6,00 por dia em cigarros.
Outras frentes
Além do Palácio dos Bandeirantes, o programa Promoção de Ambientes Livres de Tabaco também atinge o Palácio dos Campos Elíseos, o Palácio de Inverno de Campos do Jordão e órgãos vinculados à Secretaria da Casa Civil, como o Fundo Social de Solidariedade, Arquivo do Estado e Corregedoria Geral do Estado (CGE).
Cíntia Cury
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