Mesmo já chamada de
sexy, Letícia quer largar o cigarro |
Estudante
admite escolha errada quando começou a fumar, aos 14
anos |
Ela já
foi chamada de sexy ao segurar um cigarro na mão. Por
homens, de verdade, e por amigas, de brincadeira. A
estudante Letícia Faria Conde, 18 anos, começou fumar
aos 14, tomada por uma necessidade de provar que era
capaz de fazer escolhas independentes dos pais. “E eu
fiz essa péssima escolha, a do cigarro”,
admite.
A confissão da ex-adolescente, feita
ontem, coincide com o Dia Nacional de Combate ao Fumo,
lembrado hoje. É mais uma daquelas datas para escancarar
na cara de fumantes ativos e passivos todos os males já
bem conhecidos e divulgados que o tabaco
causa.
Letícia sente com clareza uma das
conseqüências de ser fumante: os amigos não gostam. “Eu
não chego a ser excluída, mas percebo.”
Os
efeitos do cigarro também são sentidos no corpo, diz o
catador de recicláveis Roberto Aparecido Gomes, 28. “Eu
sinto cansaço e tenho sinusite.” Ele também começou
cedo, aos 16 anos.
Exemplos assim são muitos. Uma
pesquisa mostra que metade dos fumantes paulistas
começou entre seis e 14 anos. Para 13,46% dos
pesquisados, foi entre seis e 11; para 36,54%, entre 12
e 14 – ou seja, 50% iniciaram entre seis e 14 – e 28,8%,
entre 15 e 20. “Os jovens são mais expostos porque não
sentem os efeitos de imediato”, afirma Luizemir Lago,
diretora do Cratod (Centro de Referência em Álcool,
Tabaco e Outras Drogas).
Letícia fez um acordo
com os pais, que são contra o hábito. “Eu disse que iria
pedir cigarro na rua se não me deixassem comprar. Viram
que seria mais seguro se me dessem o dinheiro. Então, me
deixam comprar um maço a cada quatro dias. Eu penso em
parar, mas não tem data. Acho que quando eu ficar
grávida. Pretendo orientar meus filhos para não
fumar.”
Exemplo de familiares pesa sobre
jovens A ligação do jovem com o fumo é reforçada
por outro número presente na pesquisa: apenas 7,6% dos
entrevistados começam depois dos 25 anos e só 1,9%
iniciam no vício após os 30.
Modelos em casa
também pesam na decisão de fumar, aponta o estudo. É o
caso do catador Roberto Aparecido Gomes. A mãe dele,
Maria Rosa Gomes, 46, também catadora, fuma desde os 15
anos. “Eu comecei depois de casar. Meu marido já fumava.
Não consigo largar, mas acho que não me causa problema”,
afirma ela. Mas reconhece que o dinheiro gasto com
cigarro interfere na compra de leite para a família, por
exemplo.
A pesquisa foi feita pela Secretaria
Estadual de Saúde e intermediada pelo Cratod (Centro de
Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas). Foram
ouvidos 500 usuários do Cratod entre fevereiro do ano
passado e fevereiro deste ano.
29/8/2007 |
Thárcio de
Luccas | | |